24-04-2024, 07:32 PM
(Última alteração: 24-04-2024, 07:34 PM por viceprince.)
Zero escreveu: (24-04-2024, 04:25 PM)Aonde assino??Sinto que vivemos uma época em que as pessoas tem dificuldades de separar o espaço da obra de ficção do que consideram como moral ou parte de sua essência no real, algo que era absolutamente normal e óbvio há uma década, mas que as pessoas burramente mudaram de significado e com isso nega 3 pilares básicos da ficção que são:
Esse jogo pesca um retrato do "Oprimido querendo ser opressor", eu vi tanta hipocrisia dos progressistas radicais, conforme o discurso deles foi decorrendo lembrou o culto facista com a estética realista na arte, outra face, mesma moeda.
Primeiro, saber que qualquer obra de ficção tem uma intenção enquanto há trabalho de um autor, mas que quando chega ao público ela vira polissêmica, ou seja, tem infinitos significados dependendo dos referenciais sociais, culturais e intelectuais daquele individuo. Então, por exemplo, a ideia atual de que gostar de Lovecraft é compactuar com o racismo é absurda porque quando eu leio Lovecraft e há uma descrição totalmente xenófoba e racista de um árabe ou africano, a descrição é tão absolutamente imprecisa, estereotipada e exagerada que enquanto leitor (que constrói imagens da cena na mente) eu imagino um referencial totalmente não realista de um universo inexistente de um mundo de um Conan ou GoT (não me vem referenciais de povos existentes). Não bastasse isso, como a maioria das histórias do autor é narrada em 1a pessoa é perfeitamente aceitável você se sentir por trás da visão de uma personagem que é racista e cheia de defeitos morais, sendo você uma pessoa fora da obra.
Um segundo ponto é desconsiderar totalmente o CONTEXTO das personagens no universo da obra. Então, há quem ache que Lolita faz apologia à pedofilia porque quem narra a história e o protagonista é um pedófilo, mas no contexto do livro ele está sendo julgado pelos crimes, ou seja, a história leva em consideração sua doença e degeneração moral.
Por fim, aquilo que pra mim é mais óbvio e deixam passar batido é a função de catarse da ficção, ou seja, é justamente um espaço seguro para a humanidade extrapolar seus anseios e curiosidades mais primitivas, desejos reprimidos envolvendo violência, sexualidade e tudo o que é considerado mais sujo ou reprovável socialmente. Não é sobre realidade ou representação do que é considerado ideal.