theboss escreveu: (02-07-2020, 10:15 PM)Todo mundo vê esse jogo como um revenge story, mas eu acho que a vingança é apenas um elemento da história. Na verdade, a Ellie acredita que a vingança vai redimi-la da forma como tratou o Joel, mesmo com ele tendo feito tudo que fez por ela por amor e não tendo se arrependido. O jogo lida muito com arrependimento e a sensação de impotência diante de acontecimentos da vida.
Vingança é o motor propulsor na maior parte do jogo, até que ele tenta subverter isso ao revelar os motivos para a Abby ter matado o Joel. A partir daí a motivação da Ellie (na perspectiva do jogador) se esvai completamente e você perde o antagonista central do jogo, porque nesse instante você já tem a certeza de que a Abby não mais vai morrer nas mãos da Ellie. Mas ok, até aí tudo bem. Eu gosto de um bom e velho revenge plot, mas de repente eles fazem algo interessante com essa subversão.
Mas nunca vem. É verdade que quando você passa a ter controle da Abby, o nível de empatia que temos com ela só cresce. A qualidade do roteiro está aí, nos diálogos. A Abby se torna uma personagem muito mais empática que a Ellie, e isso é intencional. Problema é que a narrativa central dela é totalmente dispersa, com excursões que mais parecem side quests. Não temos um grande antagonista (Isaac é uma piada, super mal desenvolvido) nem motivações muito instigantes. É só quando que ela decide que seu propósito passa a ser proteger o (a?) Lev que a narrativa dela passa a ser verdadeiramente interessante, e não por acaso as melhores set pieces do jogo acontecem nesse interim.
Aí o jogo corta para a Ellie novamente, e termina com uma parte super mal desenvolvida. Somos confrontados com uma gangue totalmente random, que também não teve tempo nenhum para ser desenvolvida, e o jogo, com a sutileza de uma marreta, decide que o tema agora é arrependimento e capacidade de perdoar. Isso tudo é desenvolvido nos 10% finais do jogo. E após a Ellie ter cruzado todos os limites que cruzou, decidir que vai poupá-la aos 45 do segundo tempo, só porque reavaliou sua real motivação em segundos através de um flashback, é tão convincente quanto "MARTHA!". Funcionaria melhor se o jogo desse mostras sutis de algum conflito interno da Ellie com relação a sua empreitada, mas não. Ela sempre foi completamente obstinada, até chegarmos na parte final do jogo. A abordagem PTSD (transtorno de estresse pós traumático) também só surgiu no finalzinho e sequer foi explorada, o que é uma pena, porque seria bem mais interessante terem destrinchado isso durante as sequências na primeira metade do jogo.
Para mim o jogo termina sem payoff nenhum, o que é típico de obras nihilistas e existencialistas. Tem gente que gosta, mas não é minha praia. Em boas obras do tipo, pelo menos trazem reflexões interessantes, o que não acho que foi o caso com TLOU2.
theboss escreveu: (02-07-2020, 10:15 PM)E não vejo nenhuma inconsistência em relação ao Tommy. O cara viu o irmão ser torturado e assassinado na frente dele. É uma chave mais que plausível para uma mudança de comportamento. Fora que ele ele diz à Ellie que não vale a pena ir atrás da Abby apenas para protegê-la enquanto ele mesmo faz o serviço.
Tô jogando de novo e gostando mais da história do que da primeira vez. Meu maior problema foi com a quebra do clímax do jogo no momento em que você espera um desfecho e começa a jogar com a Abby.
Isso no começo do jogo, mas depois do reencontro com a Ellie eles chegam a conclusão de que já foi o suficiente e é melhor voltar para Jackson.
Você poderia até argumentar que ele na verdade só queria deixar a Ellie e a Dina em segurança, mas depois voltaria para a caça. Problema é que o jogo não mostra nenhuma inquietude dele com relação a isso. Pelo contrário, quando a Abby chega no teatro ele está lá todo serelepe falando da jóia de ouro que encontrou. Se o jogo não me mostrou esse conflito interno, não tenho porque assumir que a intenção dele era retornar com a vingança.
Mas ainda que você estivesse certo o comportamento dele seria inconsistente. Se a intenção dele sempre foi proteger a Ellie, porque daria chilique quando ela não quis mais se arriscar com a vingança? O comportamento natural dele seria de compreensão, não de forçar a barra para uma menina magrela de 18 anos vingar o irmão dele (por mais capaz que ela fosse). Transformaram o cara em um babacão em 3 minutos de cutscene.
Enfim, vale muito pelo gameplay, worlbuilding, diálogos, atmosfera, etc. Tudo muito bom. Só esses aspectos da narrativa que achei decepcionante. Joguete ainda assim é 9/10.